domingo, 18 de abril de 2010

Educação...para além de formação utilitária

Educação: entre a contingência e a transformação
Folha de Londrina, 16/04/2010 - Londrina PR

Existe um consenso em torno da fundamental importância do investimento em educação como único meio de ultrapassarmos a condição de desenvolvimento mediano e subalterno. Também parece ser consenso que o mundo que queremos depende do modelo educacional que priorizamos e conseguimos efetivar, penetrando no plano dos valores que constroem a nossa cultura e que deixaremos de herança para as próximas gerações. A educação é responsável pelas sementes que plantamos para o amanhã que desejamos e que somos responsáveis. O grande problema é que a educação tornou-se um dos mais importantes epicentros da atual crise da sociedade. Suas contradições e dilemas refletem a quase total colonização do sistema educativo pelo instrumentalismo e pela mercantilização. Diante de um contexto global monopolizado pela técnica e pelo instrumentalismo objetivo em que o desempenho e a medida de progresso resumem-se a indicadores econômicos quantitativos de eficiência e produtividade, é certo que qualquer modelo de educação que fuja destes recortes esteja fadado ao ostracismo e ao limbo dos ''arquitetos do futuro''.

Esse raciocínio apoia-se na priorização e muitas vezes exclusivismo dos ferramentais competitivos e na visão adaptativa diante da realidade construída. Isso leva ao desprezo pelas disciplinas e pelos conteúdos reflexivos, críticos e por todos os que ousam pensar um novo modelo de comunidade, país e mundo, em que a cooperação, a solidariedade e a justiça social sejam vistos como herança maior de nossa condição humana e garantias para a sustentabilidade futura tão ameaçada.

Esquecem-se esses arautos da modernidade em considerar a história humana, que foi alicerçada fundamentalmente na capacidade de cooperação e de se harmonizar com as demais forças da natureza num processo de comensalidade garantidor da sustentabilidade da vida no planeta. Estamos nos olvidando de considerar os relacionamentos e a capacidade de trabalhar em prol de objetivos comuns, não só entre a espécie humana, mas em equilíbrio com toda a natureza. Prova disso é que a ética, a solidariedade e a questão ambiental, por exemplo, não conseguem ir além de uma posição marginal e figurativa nos currículos e disciplinas, ilustrando e adiantando a inclinação de futuras decisões dos profissionais e cidadãos. A frágil aposta desse incrementalismo é que algumas noções superficiais de temas graves na atualidade serão suficientes para conciliar um projeto individualista e competitivo radical com a harmonia social e ambiental.

Necessitamos de novas abordagens educacionais capazes de despertar para a interligação de todos com todos e com a natureza, sermos capazes de empreender, mas empreender socialmente em vez de individualmente, criar e inovar, não como mecanismo de exaltação individual, mas como contribuição para reparar os males do mundo e as dores humanas. Precisamos nos voltar para o ensino da cooperação e do associativismo visando o bem comum e a preservação do mesmo mundo que co-habitamos. Esse modelo de educação deve propor superar o reducionismo do racionalismo objetivo e adentrar no plano da sensibilidade e da subjetividade e, principalmente, desenvolver a capacidade de empatia, saber-se colocar no lugar do outro quando este é o pobre o excluído, o doente, o explorado e o injustiçado. A educação para a cooperação e para a sensibilidade tornam-se urgentes num tempo em que a lei da vantagem e da superioridade são vistas como definitivas e absolutas, uma verdade final, o fim da história.

Não se quer aqui anular a importância da educação tecnológica e a capacidade de competir num mundo onde esta ainda é a medida de valor predominante. Contudo, é necessário compreender a educação com uma abrangência maior, um espaço que transcenda o imediatismo utilitário, apto a nos capacitar para encontrar um significado mais nobre para a existência do que o destino comum de produzir, competir e ter. Uma educação capaz de ousar ao não se limitar à condição subalterna de mera adaptação às contingências do pensamento hegemônico em crise extrema de irracionalidade e insustentabilidade. LUIS MIGUEL LUZIO DOS SANTOS e BENILSON BORINELLI são professores do departamento de Administração da Universidade Estadual de Londrina

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