segunda-feira, 26 de abril de 2010

Mesa Redonda, na Unicamp, debate Piaget e a questão da aprendizagem e do desenvolvimento

Desenvolvimento e aprendizagem: a perspectiva construtivista de Jean Piaget, c/ Prof. Dr. Adrian Montoya - Unesp e Profa. Dra. Orly Zucatto Mantovani de Assis - FE/Unicamp. Dia 28, das 19 às 21h30, no Salão Nobre da FE. Realização: LPG.
www.fe.unicamp.br

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Aberto o processo de inscrição para o SIMULADO DO VESTIBULAR DA UNICAMP

Está aberto o PROCESSO DE INSCRIÇÃO para os interessados em participar do SIMULADO DA UNICAMP.
Neste ano o Vestibular da Unicamp acontece com um novo formato, procurando responder as exigências e as mudanças que passam por todo o processo de aprendizagem e de ensino do país.
As incrições se iniciaram hoje, dia 22 de abril, e se encerram nesta sexta-feira, dia 23 de abril a meia noite. Só podem ser feitas pela internet no site da COMVEST
Outras informações: http://www.comvest.unicamp.br/vest2011/simulado/inscricao.html

Ensino Médio e a Quantidade de pesquisadores em São Paulo

Baixo acesso de jovens ao ensino médio contribui para a falta de pesquisadores em SP, avalia Fapesp
Agência Brasil
Correio Braziliense, 21/04/2010 - Brasília DF

São Paulo - A limitação ou o baixo acesso de jovens brasileiros ao ensino médio é um dos fatores que preocupam e explicam a falta de pesquisadores em São Paulo, embora o estado seja atualmente responsável por quase a metade da pesquisa científica produzida no país. O gargalo, segundo Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), não é apenas um caso específico do estado, mas de todo país. Segundo ele, 67% dos jovens em São Paulo chegam ao ensino médio, mas a média nacional é de apenas 40%. “O grande desafio para o Brasil é melhorar a qualidade da educação fundamental, melhorar a qualidade e a quantidade da educação média e usar mais a capacidade instalada de pesquisa nos principais centros para formar pessoal científico para o país inteiro”, afirmou ele, em entrevista à Agência Brasil.

Outros fatores que explicariam a falta de pesquisadores em São Paulo, de acordo com o diretor da Fapesp, é o pouco apoio dado pelo governo federal às atividades de pesquisa e de pós graduação. E isso acontece, segundo ele, por causa do menor número de universidades federais instaladas no estado. “São Paulo é o único estado brasileiro que não tem uma grande universidade federal”, afirmou. “E o esforço que o governo federal dedica ao ensino superior no estado de São Paulo representa apenas 8% do total do esforço de apoio ao ensino superior federal que o governo faz no país todo. E isso é muito pouco porque São Paulo tem 21% da população brasileira”, disse.

Para o pesquisador, todos esses fatores combinados provocam a falta de pesquisadores nas universidades, nos institutos de pesquisa e nas empresas brasileiras. Um problema que pode contribuir para a perda de desenvolvimento e de competitividade do país. Em 2008, o volume total de investimento em pesquisa em São Paulo foi de R$ 15,5 bilhões, o que representou 1,5% do Produto Interno Bruto ( PIB) do estado. Segundo ele, esse percentual vem crescendo em São Paulo e o ideal seria ser mais perto de 2,3% do PIB.

Desse total de investimentos, 63% foi feito por empresas. Quanto ao financiamento público à pesquisa produzida em São Paulo, a maior parte provém de recursos estaduais. “O recurso estadual que é destinado ao financiamento à pesquisa, em São Paulo, é quase duas vezes maior do que o recurso federal. E a principal razão para isso é o fato de haver poucas universidades federais no estado de São Paulo”, disse. O estado de São Paulo conta atualmente com 1,2 mil pesquisadores a cada milhão de habitantes, enquanto a média brasileira é de 600 pesquisadores por milhão de habitantes. O número, quando comparado com o de outros países, é muito baixo. O Japão, por exemplo, tem 5,5 mil pesquisadores por milhão de habitantes, enquanto a Espanha tem 2,6 mil na mesma comparação. “A quantidade de pesquisadores, a porcentagem da força de trabalho que o Brasil e São Paulo dedicam à pesquisa é pequena em comparação à de outros países. Se for pequena em relação à dos Estados Unidos ou do Japão, pode ser que não seja muito problemático. Mas é pequeno em comparação com Portugal e Espanha”, criticou.

Segundo Cruz, além de priorizar o ensino médio em seu programa educacional, o Brasil precisa usar, de forma mais eficiente, a capacidade de pesquisa disponível em cada região, valorizando os grandes centros. “O Brasil, ao mesmo tempo que precisa desenvolver as atividades de pesquisa e de pós graduação em todas as regiões do país - porque isso é muito importante para o desenvolvimento do Brasil - também precisa usar, de maneira mais eficiente, as regiões que têm mais capacidade de formar pessoas que vão trabalhar no Brasil inteiro. Por exemplo, quando o governo federal decide que não vai fazer investimento em ensino superior federal em São Paulo, isso é algo que prejudica o Brasil e os jovens paulistas que não têm chance ou têm pouca chance de ir para uma universidade federal”, afirmou.

Educação e desenvolvimento

Educação e desenvolvimento nacional
Hélcio Corrêa Gomes
Gazeta de Cuiabá, 22/04/2010 - Cuiabá MT

O IBGE aponta (dados disponíveis de 2007/2008) que a escolarização nacional teve evasão escolar de 4,5%. Ela (evasão), junto com a má qualidade do ensino fundamental, traz perspectiva decenal nada promissora ao país. Fator que refletirá diretamente na qualificação da mão-de-obra - necessária ao desenvolvimento da nação. Segundo, o economista da FGV, Marcelo Néri teremos logo um apagão da mão de obra qualificada - se mantiver tal tendência. E intocável o perfil intelectual dos jovens nacionais. Tudo prejudicando os investimentos sociais e privados. Enfim, o sistema educacional encontra-se retroalimentando dos próprios dejetos ou defeitos.

O fragilizar do ensino fundamental reflete no ensino universitário. E coíbe no profissionalizante a apropriação do entendimento criativo e técnica avançada - disponível. Afinal, não se constrói o pensamento estruturado e reflexivo, que proporciona comportamento ético e científico sem a base filosófica ou religiosa. Além do que as universidades apenas aprimoram o pensar lógico com comportamental social. O aluno continua com seu pensar empobrecido ou fundado apenas na lógica concreta. E tem dificuldade imensa para aprimorar-se na lógica abstrata. E não há como no ensino superior obter junto com as técnicas capacidade mais refinada de reflexão. O que redunda num profissional tecnicamente bom, mas sem compromisso com o futuro. Nas empresas tal bom técnico não economiza, não cria e mantém aquela lógica nefasta - que o que importa sou eu. E cada dia mais se tem na empresa nacional que importar tecnologia e pensamento de quem sabe viver em coletividade e possui alto compromisso humanitário.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - Lei nº 9394/96 propôs mudanças significativas. Melhorou exercício da docência. Da formação continuada. Fixou conjunto de habilidades para se obter um aluno mais competente e humano. Têm parâmetros curriculares mais práticos ou adequados. Contudo, muito pouco em termos de volume necessário se fez de modo governamental. O governo federal agiu muito no marketing e continuou o Brasil entre os piores do mundo no ensino fundamental. A escola, ainda, continua a fabricar contingentes que mal sabem ler com coerência. O raciocínio lógico não está ao alcance da grande maioria dos discentes. E politicamente como formar conjunto de bons técnicos e criativos com tal situação educacional extremamente frágil. Os jovens, ainda, elegem os heróis no Big Brother 2010. As mocinhas vestem uniformes chiques das novelas - adquiridos nos shoppings (regulares ou populares). Todos parecem com os pneumáticos - robustos e fortes, mas todos iguais nas qualidades e defeitos.

A propaganda do governo federal indica aumento nos índices do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) como movimento apenas ilusionista. Enquanto no mercado só sobrevivem os técnicos que adquiriram méritos e sabem trabalhar em equipes com criatividade e inventividade, o Brasil continua promovendo automaticamente o aluno de série em série, do básico ao ensino superior. E produzindo por ciclos reiterados alunos sem saber pensar ou sequer escrever corretamente. E faz conjunto de técnicos que dificilmente podem suprir sua própria carência de conhecimento - além da técnica em si mesma, o que causa enorme prejuízo para sociedade. Tudo caminhando para um inevitável apagão da mão-de-obra hábil e necessária mercadologicamente - antevisto para 2020. E ficamos todos estacionados junto com o Ministério da Educação (MEC) no tempo retrogrado ou inútil. Dourando a pílula do ensino regular e profissionalizante. E esperando quiçá os resultados da catástrofe educacional e empresarial brasileira, cuja promessa antevista será de bons prejuízos ao Brasil - enquanto nação emergente.

Falando sobre Indisciplina na sala de aula

A indisciplina deles de cada dia
O Brasil aparece no topo da lista de países onde se perde mais tempo tentando acabar com a bagunça em sala. Despreparo dos professores para enfrentá-la e não envolvimento dos pais na rotina escolar dos filhos são algumas das causas principais
Vitor Geron, especial para a Gazeta
Gazeta do Povo, 21/04/2010 - Curitiba PR

Conversas fora de hora, mensagens de celular ou ainda os velhos bilhetinhos de papel. Não importa de que maneira a indisciplina ocorre em sala de aula, ela continua sendo um problema para os professores que querem ensinar para estudantes que desejam aprender. No Brasil, a bagunça alcança um nível preocupante. De acordo com a pesquisa Talis, divulgada ano passado pela Organização para Coope­ração e Desenvolvimento Econô­mico (OCDE) e coordenada, no Brasil, pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), os professores brasileiros são os que mais perderam tempo na manutenção da ordem na classe. Em média, desperdiça-se com a bagunça 18% do tempo total de aula. Subtraídos ainda 12% das aulas com questões de organização, – da chegada do professor à distribuição de materiais, passando pela chamada –, sobram apenas 70% do tempo para a aplicação do conteúdo, o menor índice entre as 24 nações pesquisadas.

Quando calculada em relação ao ano letivo, a perda fica ainda mais evidente. O estudo Talis, o mais recente sobre o ambiente de aprendizagem nas escolas, revela que, considerados 200 dias letivos, apenas 140 são utilizados pelos professores para transmitir o conteú­do. “São 60 dias perdidos. É como se fosse dado um verão inteiro de férias para os alunos”, diz o doutor em educação Joe Garcia, coordenador do grupo de pesquisas sobre indisciplina na educação contemporânea no mestrado e doutorado em educação da Universidade Tuiuti do Paraná (UTP).

Menos qualidade - O nível de bagunça nas salas brasileiras influencia diretamente na qualidade do ensino, como explica Garcia. “Um aluno que faz bagunça cria um ambiente favorável para a desordem dentro da sala de aula e prejudica o desempenho escolar dos colegas, caso o professor não saiba lidar corretamente com essa indisciplina”, diz ele. Uma das soluções para compensar esse tempo perdido na organização do ambiente escolar seria, segundo o professor, aumentar a carga horária das aulas, proposta que vem sendo discutida em diversos países, entre eles os Estados Unidos. Como aqui a discussão ainda não chegou, cabe aos professores tentar conter a bagunça. Responsabilidade do professor - Especialistas concordam que a bagunça surge, muitas vezes, quando os professores não transmitem o conteúdo de maneira adequada. E que ela torna-se frequente em sala de aula quando o professor não sabe como enfrentá-la a contento. O professor de pedagogia e psicologia da Unibrasil, Emerson Luiz Peres, acredita que muitas vezes os educadores, ao depararem-se com situações de indisciplina, confundem a noção de autoridade com a de autoritarismo. “Isso porquê muitos deles têm dificuldade em se posicionar frente a um novo modelo de relação social, no qual os alunos têm mais conhecimento do que no passado, exigem qualidade no ensino e conhecem mais os seus direitos. Isso acaba fazendo com que os professores ajam de modo autoritário”, diz.

A preparação deficiente para enfrentar o problema também é apontada como um motivo da dificuldade em se lidar com a indisciplina dos alunos. “É preciso investir muito na formação dos educadores, não só nos conteúdos, mas também nas relações do professor com o aluno, a família, a escola e com os diretores”, diz Peres. Para Garcia, os professores não têm uma formação cultural e acadêmica apropriada para enfrentar a bagunça em sala de aula. Aulas mais preparadas - Outro aspecto importante para conter as bagunças em sala, destacado pelos professores, diz respeito à melhora na preparação das aulas. A professora de Geografia do ensino médio no Colégio Dom Bosco, Cibele Cruz, acredita ser fundamental que o professor domine o conteúdo e preocupe-se em transmitir a matéria de maneira interessante. Ela também destaca que o papel de observação da turma é importante para os professores. “Se eu tenho um aluno hiperativo, eu devo ter consciência de que preciso elaborar outras atividades para ele, antes que esta característica individual prejudique a ordem na sala”, explica. A opinião é compartilhada pela professora da rede municipal de ensino em Curitiba e autora do livro Limites e Indisciplina na Educação Infantil, da Editora Alínea, Maritza Rolim Vergès. “Fora dos muros da escola existem muito mais coisas para um jovem ou criança fazer, por isso a escola não pode ser chata”, co­­menta ela, assinalando que a falta de educação por parte dos alunos também é causada pela desestruturação das famílias.

Além do despreparo dos professores, a distância dos pais em relação à vida escolar dos filhos – ou mesmo a participação negativa sobre eles – colabora diretamente para o surgimento da indisciplina. Os professores indicam que as bagunças costumam ser mais frequentes entre estudantes de 6.ª a 8.ª série. Isso porque, segundo Joe Garcia, a relação dos jovens com a autoridade geralmente muda entre os 11 e 14 anos de idade, fase na qual eles tentam romper com o mundo dos adultos para buscar, dentro do próprio grupo de colegas, uma liderança. Para a diretora pedagógica do Colégio Acesso Boqueirão, Adriana Franco, pais que não impõem limites ou mesmo aqueles que são severos demais podem influenciar negativamente os adolescentes nesta faixa etária, por ser esse um momento de auto afirmação.

Torcida organizada - Garcia ensina como os pais devem se comportar para ter controle sobre a vida escolar dos filhos sem sufocá-los nem deixá-los livres demais. Ele compara o desempenho do jovem no colégio com uma partida de futebol em que o time é o estudante e a escola é o campo de jogo. Neste cenário, os pais teriam de ser uma “torcida organizada do bem”. Para Garcia, uma boa torcida não pode ser fanática ao ponto de exigir que o time seja o melhor e ganhe sempre, mas por outro lado, tem de saber apoiar nos momentos difíceis. “É importante também acompanhar de perto o desempenho do time, saber quando é o jogo, o placar, dar uma olhada nos melhores lances e ir ao campo sempre que puder”, completa.

Bagunça evoluiu - O coordenador disciplinar do Co­­légio Bom Jesus, Robson Fernando Oldenburg, lembra que, atualmente, existem nas escolas formas de bagunça que não existiam no passado. “Eles têm jogos portáteis, celulares, mp3, mp4, enfim, uma infinidade de aparelhos eletrônicos que atrapalham a aula tanto quanto a conversa paralela e o bilhetinho”, conta. Segundo Garcia, a tecnologia nesses casos cria uma bagunça codificada e, muitas vezes, silenciosa. Por isso os professores e educadores também precisam estar por dentro dessas novidades para conseguir controlar a bagunça. Mesmo assim, bolinhas de papel, borrachas no ventilador e aviõezinhos voando pela sala são situações que ocorrem ainda hoje. A pedagoga da Escola Estadual Ângelo Trevisan, Maria Gorete Stival, acredita que alunos, professores e pais devem estar cientes e comunicar sempre que possível quais são os direitos e deveres dos alunos dentro do colégio. “Em alguns casos vale perder aqueles cinco minutos iniciais da aula para organizar a sala e lembrar que certas situações não são toleradas no ambiente escolar”, destaca.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Proposta de novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental

Aproveitando o feriado de Tiradentes para fazer leituras mais rápidas no mundo virtual me deparei com a informação da proposta do projeto para novas diretrizes curriculares nacionais para o ensino fundamental, sintonizando a mudança que ocorre para nove anos desta etapa da educação básica.

Tomo liberdade de reproduzir o texto abaixo, que está no blog Idéias em Educação:
"Com a aprovação do Ensino Fundamental de 9 anos, o MEC enviou ao Conselho Nacional de Educação proposta de novas Diretrizes Curriculares para o Ensino Fundamental. O texto que está sendo debatido em audiências públicas em todo o país pode ser encontrado aqui. Uma leitura deste documento revela que ainda estamos bem distantes da necessidade dos professores e das escolas, já que as orientações são genéricas e pouco objetivas. Por exemplo, o artigo 11º determina que o currículo deve assegurar que as crianças e os adolescentes sejam capazes, entre outras coisas, de: “utilizar as diferentes linguagens – verbal, musical, matemática, gráfica, plástica e corporal – para produzir, expressar e comunicar suas idéias, entender e usufruir das produções culturais em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação” (fonte:http://www.lideresemgestaoescolar.org.br/ideiasemeducacao/index.php/category/blog).

Bem, disponibizo o link para que todos possam ter acesso ao documento e assim nos envolvermos no processo. O documento está no site http://www.cesarcallegari.com.br, basta procurar o link "TEXTO DE REFERÊNCIA: SUBSÍDIOS PARA DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA" e fazer o dowload.

Planejamento do Tempo de Estudo para resultados

Sistemas auxiliam na programação dos estudos
Gestão do tempo dedicado a cada disciplina é essencial a candidato
JORDANA VIOTTO DA REPORTAGEM LOCAL
Folha de São Paulo, 18/04/2010 - São Paulo SP

O planejamento do tempo para os estudos é um dos desafios dos concursados. É preciso saber dosar a extensão do conteúdo das disciplinas e o rendimento em cada uma. É nesse cálculo ponderado que muitos têm dificuldade. Para ajudar o candidato, há ferramentas recém-lançadas, como o serviço on-line de planejamento Tuctor, que custa R$ 15 por bimestre. O criador do sistema, o juiz do Trabalho Rogerio Neiva Pinheiro, explica que o programa começa na definição dos objetivos. Montada a grade, o candidato acompanha a execução. "[O sistema] me obriga a cumprir as tarefas, senão fico com "saldo negativo" na minha "conta'", afirma Marcio Omena, 29, que se prepara para o concurso de procurador federal.
O escriturário Francisco Faustino, 39, aprovado em sete concursos, criou sua estratégia sozinho. Calculou a divisão do tempo, com, no mínimo, duas horas diárias de estudo, e frequentou cursos preparatórios. "Planejei o tempo em uma planilha eletrônica", conta o economista Charles Dias, 37, que passou em quatro seleções. A programação do diplomata Vicente de Azevedo Araujo Filho, 31, incluiu largar o emprego e concentrar-se nos estudos -em casa e no cursinho. "Sonhava em ser diplomata desde pequeno e, quando deixei o cargo em uma multinacional, me mantive com as economias da época", conta ele. O segredo não é apenas dividir bem o tempo para cada disciplina, mas organizar pausas diárias e semanais para fazer outras atividades e gerenciar a ansiedade, orienta Monica Nunes, coordenadora pedagógica da Central de Concursos.

Sistema Preventivo em todos os momentos

Ócio educativo
Antes sem regras, recreio passa a ter brincadeiras e atividades organizadas pelos professores, como aulas de música e jogos de tabuleiro
TALITA BEDINELLI DA REPORTAGEM LOCAL
Folha de São Paulo, 19/04/2010 - São Paulo SP

Escolas particulares de São Paulo começaram a organizar a brincadeira das crianças no recreio. Para substituir a correria habitual do intervalo, elas estão oferecendo espaços onde os professores ensinam a brincar com jogos de tabuleiro ou com brinquedos antigos. Há as que oferecem até cantos de leitura. O objetivo é transformar o recreio em um momento de aprendizagem. "Quando a criança aprende a brincar, ela aprende a respeitar regras, a saber esperar, a respeitar limites. A gente quer trabalhar a convivência", diz Regina Di Giuseppe, coordenadora do colégio Santo Américo (zona oeste), que oferece atividades no recreio desde o ano passado.

Para a educadora Marisa Elias, do curso de pedagogia da PUC-SP, a ação das escolas é positiva, mas os alunos não podem ser obrigados a participar. "Não pode impor, recreio é liberdade. A criança não pode sair de uma sala de aula e ter que sentar na cadeira para jogar xadrez durante o intervalo." As escolas dizem que as atividades não são obrigatórias, mas a maioria dos alunos participa. O Pentágono do Morumbi (zona oeste) há cerca de um ano passou a oferecer seis estações de brincadeiras: jogos de tabuleiro, jogos de mesa (como xadrez), música e coreografia, jogos de quadra, brincadeiras folclóricas e leitura. Os alunos vão para a que preferem. O cantinho de que Arnaldo Rosim, 6, mais gosta é o de jogos de tabuleiro. A mãe diz que ele levou o gosto para casa. "Hoje ele chama a gente para brincar e passa menos tempo no computador, brincando sozinho", afirma Luciana Rosim.

A iniciativa das escolas é justamente uma espécie de contra-ataque ao vício das crianças pelo computador. "A gente percebe que hoje eles passam a maior parte do tempo entretidos com jogos eletrônicos e têm dificuldade de iniciar uma brincadeira. Eles estão sempre à espera de alguém propor", diz Mitzi Moniz, coordenadora pedagógica do Pentágono. Maria Angela Carneiro, do Núcleo de Cultura e Pesquisas do Brincar da PUC-SP, conta que há pouco tempo fez um experimento em uma escola que coordenava: pediu que as crianças propusessem uma brincadeira. Ela se assustou quando viu os alunos colocarem o pé na parede e dizerem que estavam brincando de tomar sol. "Isso demonstra que há uma falta de repertório de brincadeiras." No "Cantinho do Brincar" do Santo Américo, professores propõem desafios de grupo, brincadeiras com massinhas, concurso de karaokê e até assembleias -para ajudar as crianças a expor as preferências com mais clareza. Brincadeiras antigas estão entre as mais procuradas. "Cabra-cega é muito popular", conta a aluna Isadora Monteiro, 10.

Vigilância - Nas atividades oferecidas pelas escolas, os professores ensinam as regras dos jogos e também supervisionam as brincadeiras. Com isso, o número de brigas diminuiu, contam. Maria Angela, professora da PUC-SP, afirma, no entanto, que as crianças deveriam ter mais liberdade. "Elas acabam esperando que o professor dirija tudo e perdem a oportunidade de ter autonomia. Podem virar adultos inseguros, que não sabem tomar decisão", alerta.

Desafios para estimular os estudos

Olimpíadas do Conhecimento ganham espaço nas escolas públicas e privadas
Agência Brasil
Correio Braziliense, 18/04/2010 - Brasília DF

Brasília – Nos últimos anos, as competições e desafios educacionais ganharam espaço nas escolas públicas e particulares do país. As Olimpíadas do Conhecimento vão se sucedendo e hoje já existe praticamente uma para cada disciplina. A mais popular delas, a Olimpíada de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), recebeu 19 milhões de inscrições para a edição deste ano. Na opinião dos educadores, as olimpíadas podem causar um efeito positivo no aprendizado, mas é preciso ter cuidado com o excesso de competitividade. “A competição tem um lado positivo, porque estimula o aluno a superar seus limites e, quando não há motivação, há diminuição do esforço. Mas é preciso ficar atento ao excesso de cobrança, que pode causar angústia e prejudicar o aprendizado”, afirma a presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, Quézia Bombonato.

O professor de Márcio Lopes, do Colégio Polivalente, de Brasília, participa da Obmep desde as sua primeira edição, em 2005. Segundo ele, os efeitos da olimpíada no aprendizado são positivos. “Muitos alunos ficaram empolgados com o estilo da prova e passaram a se interessar mais pela matemática. A competição muda a rotina da sala de aula, mas despertar esse interesse”, diz Lopes.

O professor trabalha com alunos do 5° e 6° anos do ensino fundamental e está animado para a disputa deste ano. Lopes teme não ter tempo para preparar seus alunos, pois as provas deste ano foram antecipadas para o primeiro semestre. “Procuro pegar questões de anos anteriores da Obmep para estudar com eles, trabalhar a parte dos enunciados.” Quézia Bombonato aconselha as escolas a trabalhar as diversas habilidades do aluno, participando de olimpíadas de diferentes áreas. “Os alunos vão se dando conta de suas competências se isso for bem trabalhado pela escola. Mas não dá para esperar que todos mundo seja bom em matemática, por exemplo. As diferenças individuais precisam ser respeitadas”, alerta a psicopedagoga .

Algumas olimpíadas ainda estão com inscrições abertas. São as seguintes: Olimpíada de Língua Portuguesa – Escrevendo o futuro - Redes estaduais e municipais de ensino podem se inscrever até 14 de maio para participar da competição. Depois desse cadastro, os professores interessados fazem a adesão. Podem participar alunos do 5° ao 9° anos do ensino fundamental. Informações: www.escrevendoofuturo.org.br. Olimpíada Brasileira de Física - Inscrições pela internet (www.sbf1.sbfisica.org.br/olimpiadas/obf2010) até 6 de agosto. O credenciamento deve ser feito pelo próprio professor. A OBF é organizada pela Sociedade Brasileira de Física e destina-se a alunos do ensino médio e do 9° ano do ensino fundamental. Os primeiros colocados poderão participar de competições internacionais. Olimpíada Brasileira de Biologia - Podem participar estudantes dos três anos do ensino médio. As inscrições devem ser feitas pela internet (www.anbiojovem.org.br) até o dia 27 deste mês. Os quatro primeiros colocados vão compor a equipe brasileira que vai participar da Olimpíada Internacional de Biologia na Coreia.

domingo, 18 de abril de 2010

Educação...para além de formação utilitária

Educação: entre a contingência e a transformação
Folha de Londrina, 16/04/2010 - Londrina PR

Existe um consenso em torno da fundamental importância do investimento em educação como único meio de ultrapassarmos a condição de desenvolvimento mediano e subalterno. Também parece ser consenso que o mundo que queremos depende do modelo educacional que priorizamos e conseguimos efetivar, penetrando no plano dos valores que constroem a nossa cultura e que deixaremos de herança para as próximas gerações. A educação é responsável pelas sementes que plantamos para o amanhã que desejamos e que somos responsáveis. O grande problema é que a educação tornou-se um dos mais importantes epicentros da atual crise da sociedade. Suas contradições e dilemas refletem a quase total colonização do sistema educativo pelo instrumentalismo e pela mercantilização. Diante de um contexto global monopolizado pela técnica e pelo instrumentalismo objetivo em que o desempenho e a medida de progresso resumem-se a indicadores econômicos quantitativos de eficiência e produtividade, é certo que qualquer modelo de educação que fuja destes recortes esteja fadado ao ostracismo e ao limbo dos ''arquitetos do futuro''.

Esse raciocínio apoia-se na priorização e muitas vezes exclusivismo dos ferramentais competitivos e na visão adaptativa diante da realidade construída. Isso leva ao desprezo pelas disciplinas e pelos conteúdos reflexivos, críticos e por todos os que ousam pensar um novo modelo de comunidade, país e mundo, em que a cooperação, a solidariedade e a justiça social sejam vistos como herança maior de nossa condição humana e garantias para a sustentabilidade futura tão ameaçada.

Esquecem-se esses arautos da modernidade em considerar a história humana, que foi alicerçada fundamentalmente na capacidade de cooperação e de se harmonizar com as demais forças da natureza num processo de comensalidade garantidor da sustentabilidade da vida no planeta. Estamos nos olvidando de considerar os relacionamentos e a capacidade de trabalhar em prol de objetivos comuns, não só entre a espécie humana, mas em equilíbrio com toda a natureza. Prova disso é que a ética, a solidariedade e a questão ambiental, por exemplo, não conseguem ir além de uma posição marginal e figurativa nos currículos e disciplinas, ilustrando e adiantando a inclinação de futuras decisões dos profissionais e cidadãos. A frágil aposta desse incrementalismo é que algumas noções superficiais de temas graves na atualidade serão suficientes para conciliar um projeto individualista e competitivo radical com a harmonia social e ambiental.

Necessitamos de novas abordagens educacionais capazes de despertar para a interligação de todos com todos e com a natureza, sermos capazes de empreender, mas empreender socialmente em vez de individualmente, criar e inovar, não como mecanismo de exaltação individual, mas como contribuição para reparar os males do mundo e as dores humanas. Precisamos nos voltar para o ensino da cooperação e do associativismo visando o bem comum e a preservação do mesmo mundo que co-habitamos. Esse modelo de educação deve propor superar o reducionismo do racionalismo objetivo e adentrar no plano da sensibilidade e da subjetividade e, principalmente, desenvolver a capacidade de empatia, saber-se colocar no lugar do outro quando este é o pobre o excluído, o doente, o explorado e o injustiçado. A educação para a cooperação e para a sensibilidade tornam-se urgentes num tempo em que a lei da vantagem e da superioridade são vistas como definitivas e absolutas, uma verdade final, o fim da história.

Não se quer aqui anular a importância da educação tecnológica e a capacidade de competir num mundo onde esta ainda é a medida de valor predominante. Contudo, é necessário compreender a educação com uma abrangência maior, um espaço que transcenda o imediatismo utilitário, apto a nos capacitar para encontrar um significado mais nobre para a existência do que o destino comum de produzir, competir e ter. Uma educação capaz de ousar ao não se limitar à condição subalterna de mera adaptação às contingências do pensamento hegemônico em crise extrema de irracionalidade e insustentabilidade. LUIS MIGUEL LUZIO DOS SANTOS e BENILSON BORINELLI são professores do departamento de Administração da Universidade Estadual de Londrina

Repensando a escola: espaço, tempo...vivências, aprendizado

A escola e o desejo de aprender
Elias Januário
Gazeta de Cuiabá, 16/04/2010 - Cuiabá MT

Outro aspecto que quero dialogar com vocês, leitores, é sobre o interesse dos estudantes pela escola, particularmente pelo que é ensinado nas instituições escolares públicas e particulares de nosso país. Uma triste realidade que nos deparamos é que nossas escolas não levam em consideração a curiosidade dos educandos e as possibilidades do novo. Na maioria das vezes tudo já está pronto, estabelecido, determinado. Os conteúdos curriculares não despertem interesse nos alunos, dificultando com isso a aprendizagem. O desejo de aprender, que deveria ser aflorado cotidianamente, acaba sendo contido pelos currículos escolares que a cada dia estão mais distantes da realidade e do interesse dos estudantes.

As escolas, em sua maioria, desconhecem o mundo infanto-juvenil na sua essência, ficam presos a teorias e metodologias que muitas vezes não refletem o contexto dos seus estudantes. Os estabelecimentos escolares determinam o que deve e o que não deve aprender na formação escolar, sem ouvir os alunos, sem levar em consideração a diversidade de conhecimento e saberes que as crianças e jovens trazem consigo e que poderiam ser aproveitados como parte do instrumental de metodologia de ensino.

É preciso também repensar a escola em seu modelo espaço-tempo, ou seja, rever a estrutura que se encontra caracterizada por sala, campainha, corredor e pátio. É fundamental conceber outros espaços alternativos de aprendizagem, locais e momentos diversos para que se possa aprender e produzir o conhecimento. Fazer o estudante pensar, investigar, descobrir o caminho do conhecimento. No momento atual, num contexto de um mundo conectado e globalizado, a função do professor passa a ser a de uma pessoa que aponta rumos e possibilidades ao invés de ficar dando respostas.

Outro fator que devemos levar em consideração quando discutimos aprendizagem na escola, trata-se dos conteúdos e conceitos que são ensinados e nunca são usados na vida. Trata de temas que poderiam ser substituídos por outros que teriam melhor aproveitamento na formação enquanto cidadão. A escola perde um tempo considerável ensinando conteúdos que nunca serão utilizadas, ou quando muito para passar no vestibular, enquanto poderia estar tratando de temas mais atraentes e de utilidade para a vida cotidiana como meio ambiente, saúde, diversidade, sexualidade, entre outros. Para termos uma escola onde o aluno sinta o gosto pelo aprendizado, tenha vontade de frequentá-la não apenas pelos amigos ou obrigados pelos pais, essa escola tem que levar em consideração o desejo de aprender do estudante e não apenas o que os adultos acham importante. Para tanto é imprescindível que se rompa com a tradicional e perniciosa "grade curricular", propondo um modelo mais flexível e aberto de busca do conhecimento e produção do saber.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

UNICAMP fará simulado sobre nova proposta de VESTIBULAR de 2010

Unicamp realizará simulado como preparação para novo vestibular
Serão sorteados 1.200 participantes; inscrições acontecem nos dias 22 e 23 de abril

15/04/2010 - 11:30
EPTV.com - Marcos Paulino

A Comissão Permanente para os Vestibulares (Comvest) da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) vai realizar um simulado da prova da primeira fase do novo vestibular no dia 16 de maio, no campus de Campinas. Os interessados deverão se inscrever nos dias 22 e 23 de abril, gratuitamente, no site www.comvest.unicamp.br.

As vagas são limitadas a 1.200 participantes, que serão escolhidos por meio de um sorteio entre os inscritos. O simulado é reservado para estudantes que estejam cursando o ensino médio ou que tenham se formado nos últimos dois anos e seguirá o novo formato da prova da primeira fase.

Segundo o novo modelo do vestibular da Unicamp, aprovado no final de 2009, a prova se compõe de duas partes: 48 questões de múltipla escolha, que formam a parte de Conhecimentos Gerais, e a Redação, na qual os participantes serão solicitados a elaborar três textos de gêneros diversos. A duração da prova será de cinco horas

A divulgação da lista dos sorteados para participar do simulado será divulgada no dia 27 de abril. Entre as 10 horas do dia 27 e às 17 horas do dia 28, os sorteados e os constantes da lista de espera deverão confirmar interesse em participar. No dia 30 de abril, será divulgada a lista final de participantes e os locais de prova.

A partir do dia 17 de maio, a prova estará disponível para consulta, com o gabarito das 48 questões da prova de Conhecimentos Gerais. Os participantes terão acesso, individualmente, às notas que obtiveram na prova, a partir de 15 de junho. Também a partir de 15 de junho, serão divulgados exemplos de textos da prova de Redação produzidos durante o simulado, com comentários.

Novo vestibular

Até o ano passado, a primeira fase do vestibular da Unicamp era composta de 12 questões dissertativas e uma redação, em que o candidato selecionava uma de três propostas (dissertação, narrativa ou carta) e preparava apenas um texto. A partir do próximo processo seletivo, o candidato deverá produzir três textos de gêneros diversos, todos de execução obrigatória.

O número de questões passará de 12 dissertativas para 48 de múltipla escolha. Assim como no simulado, o tempo de duração da prova da primeira fase passará de quatro para cinco horas. As inscrições para o Vestibular Unicamp 2011 serão realizadas no período de 23 de agosto a 8 de outubro.

Bullyng - parte V

Toda atenção para o bullying
Editorial
Gazeta de Cuiabá, 15/04/2010 - Cuiabá MT

Milhões de crianças e adolescentes, meninos e meninas, de todo o mundo são vítimas, diariamente, de um mal que existe há séculos, mas que hoje em dia tem o nome "científico" bullying. O problema vem alcançando proporções avassaladoras. É fato que sempre aconteceu em todas as escolas, mas por muito tempo a sociedade tratou como uma brincadeira de criança e não deu maior importância ao tema. O termo inglês designa todo o tipo de atitudes agressivas, verbais ou físicas, praticadas repetidamente por um ou mais estudantes contra outro aluno e suas consequências são drásticas. Uma pesquisa divulgada pela organização não-governamental (ONG) Plan Brasil aponta que quase um terço dos estudantes brasileiros entre a 5ª e a 8ª séries do ensino fundamental já sofreram maus-tratos. Revela que 28% dos 5.168 estudantes entrevistados para a pesquisa foram agredidos em 2009.

Fato que chama atenção é que as escolas não têm estratégias para lidar com o bullying e outras forma de violência escolar. Ressalva-se, porém, que não existe um método definido para lidar com essas situações. Trata-se de uma questão complicada, apesar de antiga, e que carece de estudos e medidas mais profundos. Diante desse quadro, é importante que os pais e professores estejam atentos e saibam diferenciar o bullying de uma brincadeira entre os jovens. O bullying não é uma simples brincadeira de criança ou apelido que às vezes constrange. Tem casos que são gravíssimos, chegam a espancamentos. A criança não pode ir na escola, porque sabe que vai apanhar.

Os prejuízos são enormes para a aprendizagem dos agredidos, que na maioria das vezes perdem o entusiasmo, perdem a concentração e têm medo de ir à escola. Em Cuiabá, a violência no ambiente escolar tem sido uma constante. Verdadeiras gangues são formadas pr alunos que brigam e chegam a trocar tiros. É um problema complicado que ainda não mereceu a atenção devida, o que precisa acontecer urgentemente. Criar programas específicos para pregar a paz nas escolas deve ser uma iniciativa dos educadores, das secretarias municipais e estaduais de Educação. São poucas as iniciativas nesse sentido. Porém, num mundo em que a violência se faz presente no cotidiano das pessoas, buscar saídas para evitar que o problema aumente ainda mais é essencial.

Regras, limites e Educação

Conflitos Educacionais - Regras provocam tensão entre escola e alunos
Disputas nas instituições de ensino são cada vez mais comuns. Objetivo não pode ser cercear a liberdade, mas contribuir para o bom uso dela
Bruno Maffi Reportagem Local
Folha de Londrina, 15/04/2010 - Londrina PR

As instituições de ensino e os pais partilham a tarefa de educar e socializar crianças e adolescentes. A obrigação, no entanto, é naturalmente conflituosa. Por um lado, discute-se os limites da intervenção dos professores na vida do aluno. Por outro, existe a necessidade de impor regras para a conduta dos estudantes no ambiente escolar. O caso da proibição das pulseiras do sexo, após o estupro de uma adolescente ser denunciado pela FOLHA DE LONDRINA, é um exemplo de medida polêmica. O debate gira em torno do poder que as instituições de ensino têm para tomar tal atitude. ''Mesmo sem consultar os pais ou esperar uma ordem judicial, a escola pode impor uma proibição, porque é seu dever zelar pelos alunos'', garante a professora Silvia Tacla, graduada em direito na Universidade Estadual de Londrina (UEL) e mestre pela Universidade de Marília (Unimar).

Nesta entrevista, Silvia, que atua na área do direito educacional há dez anos, aborda os limites da relação entre escolas, mestres e estudantes e o papel de cada personagem nesse processo. E explora ainda temas polêmicos, como a aplicação de prova surpresa, expulsão de alunos, uso de drogas, entre outros. Uma instituição pode impor proibições aos alunos quanto a roupas e adereços? Casos como roupa curta demais ou das pulseiras do sexo são momentos tensos no ambiente escolar. A decisão de proibir visa o bem-estar do aluno e da comunidade escolar. Mesmo sem consultar os pais ou esperar uma ordem judicial, a escola pode impor uma proibição, porque é seu dever zelar pelos alunos. Não é tirar a liberdade, mas contribuir para o bom uso dela. Porém, sempre que possível é bom orientar os pais e os alunos quanto aos motivos das proibições.

O que define os direitos e os deveres dos professores e alunos no ambiente escolar? Não existe código de lei específico. Seguimos a Constituição Federal, o Código de Direito Civil e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Cada escola pode produzir seus estatutos, visando as peculiaridades locais, desde que em conformidade com os códigos oficiais. Quem o aluno deve procurar quando sentir-se lesado como cidadão na escola? Na escola há hierarquia. Se o problema for com algum professor, o aluno pode procurar os orientadores ou a direção escolar. Como cidadão, se ele não sentir-se assegurado em seus direitos, pode e deve procurar o Ministério Público. Caso não chegue a uma decisão satisfatória, o aluno pode entrar com processo na Justiça. Eu oriento que deve se procurar resolver os problemas no próprio ambiente escolar. Como o professor deve agir se o aluno desrespeitá-lo em sala de aula? O professor tem o dever de estabelecer a ordem na sala de aula. Ele deve usar o bom-senso É claro que não se pode confundir autoridade com autoritarismo, mas se algum aluno estiver atrapalhando em sala o professor deve exercer sua função de manter a disciplina. No Estatuto da Criança e do Adolescente há, além dos direitos, os deveres dos menores e baseados neles a escola pode impor suas normas. Caso o aluno não obedeça, o professor pode recorrer à orientação educacional e à direção, que em casos mais graves pode chamar os responsáveis.

O professor pode expulsar um aluno da sala de aula? A Constituição garante ao aluno o direito à educação. Mas, se houver real necessidade, o professor pode recorrer a atividades extrassala, para que a ação de retirar da classe não seja contraproducente. O que não deve acontecer é aluno perambulando pelo pátio, sem atividade, ou mesmo, o professor criar situação constrangedora para a criança, o que pode ser caracterizado como ''bullying'', que é o assédio moral no ambiente escolar. E a escola pode expulsar um aluno? Pelo mesmo direito à educação, o aluno não pode ser expulso, como já ocorreu no passado. A instituição de ensino deve promover meios para solucionar a situação. Se em algum momento for verificado que continuar na mesma escola pode prejudicar até mesmo o aluno que causa a indisciplina, os pais podem ser orientados pela direção, para o bem de seu filho, a buscar outra escola, possibilitando nova oportunidade de mudança de comportamento e evitando maiores problemas no relacionamento escolar. Como lidar com um aluno alcoolizado ou que fez uso de droga? Devem ser chamados os responsáveis pelo aluno. A escola tem o dever de orientar, de promover discussões para que aconteça uma conscientização dos alunos quanto aos perigos desses vícios. E quando há casos verificados, o assunto deve ser tratado com bom-senso e cautela, para não expor o aluno, criando um estigma, mas ao mesmo tempo, com seriedade, porque há sempre o perigo de mais alunos seguirem os passos do que se deixou levar pelo vício.

Como coibir crimes como o uso da internet para humilhar colegas e professores? Os termos que utilizamos para os ''crimes'' das crianças é ''desvio de conduta'' e para o adolescente é ''ato infracional''. Essas atitudes virtuais que prejudicam a imagem dos amigos ou dos professores, e que muitas vezes podem gerar atritos presenciais, devem ser julgadas pelas mesmas leis presenciais. São caracterizadas como injúrias. O adolescente que comete esse ato infracional pode ser levado para um internamento provisório, pode ter que participar de uma audiência com um juiz de direito e receber uma medida socioeducativa. Quanto ao uniforme, a escola pode obrigar o uso? Se for oferecido aos alunos pobres que não possuem condições para adquiri-lo, sim. O uniforme é uma segurança para o aluno. Com seu uso é criada uma identificação com a instituição, o que pode impedir que outras pessoas se insiram no ambiente escolar para provocar algum dano.

O professor pode aplicar prova surpresa? A temida prova surpresa não pode ser um ato de terrorismo, nem criar um clima de insegurança no aluno. O professor pode utilizar de outros meios para avaliar sem constranger. Não é orientada essa prática, mas pode ser adotada, uma vez que o professor é quem decide sobre como avaliar seus alunos. Alguns educadores vão avaliando a participação durante todas as aulas e talvez esta seja uma das melhores opções. Não se pode confundir autoridade com autoritarismo O aluno não pode ser expulso, como já ocorreu no passado.

Bullyng - parte IV

Ato se tornou mais violento, diz especialista
DA REPORTAGEM LOCAL
Folha de São Paulo, 15/04/2010 - São Paulo SP

Para Vera Zimmermann, coordenadora do CRIA (Centro de Referência da Infância e Adolescente) da Unifesp, o bullying é um fenômeno que sempre aconteceu, mas tem se manifestado de forma mais violenta também entre as meninas. A pesquisa mostra que 7,6% delas já praticaram bullying. Entre os meninos, o número é de 12%. (TALITA BEDINELLI)

FOLHA - O bullying aumentou?
VERA ZIMMERMANN - O bullying é uma questão que sempre existiu, em todas as épocas. Geralmente acontece e se repete com crianças ou pessoas mais fragilizadas. Não é um fenômeno novo, mas temos percebido que há um aumento na conduta agressiva, também entre as meninas, o que era mais raro.

FOLHA - Por quê?
ZIMMERMANN - Imagino que por uma mudança sociocultural. Elas hoje conseguem brigar mais.

FOLHA - Quem é o agressor?
ZIMMERMANN - Em menor ou maior grau qualquer um agrediu e foi agredido. Mas aquele que repetidamente assume posição de agressão tem um um psiquismo muito fragilizado que precisa manter a própria autoestima diminuindo o outro. As escolas precisam intervir, mas é preciso tomar cuidado para não inibir totalmente. Pode haver conflito, gozação. Isso serve de aprendizagem para a convivência.

Bullyng - parte III

Governo, prefeitura e escolas atacam problema
O Estado de São Paulo, 15/04/2010 - São Paulo SP

Governos e escolas começam a tomar consciência da gravidade do bullying e estão criando medidas para combatê-lo. A Prefeitura de São Paulo publicou em fevereiro um decreto determinando que todas as escolas da rede incluam em seus projetos pedagógicos medidas de conscientização e prevenção ao bullying. Na rede estadual, o governo entregou aos coordenadores pedagógicos material informativo sobre o problema. "Desde 1996 trabalhamos a ideia da cultura da paz, mas no ano passado incluímos o conceito de bullying", disse Edson de Almeida, chefe da Educação Preventiva.

Nas escolas particulares, o diálogo com pais e alunos é a chave para tentar evitar o fenômeno. "Muitas vezes o problema é a afetividade das crianças. A gente trabalha isso em parceria com os pais", disse a diretora do Colégio Catamarã, Vera Anderson. Na escola Itatiaia, as salas com apenas 15 alunos facilitam a supervisão. "Existe um bullying de cutucões e risadas. O professor precisa estar atento", diz a coordenadora Adriana Iassuda. / CARLOS LORDELO E L.A.

Bulllyng - parte II

Um novo termo para um velho problema
Cenário: Luciana Alvarez
O Estado de São Paulo, 15/04/2010 - São Paulo SP

Aprender sem medo é direito de todas as crianças, disse Cléo Fontes, coordenadora da pesquisa da Plan Brasil. E ninguém contesta essa declaração. O termo "bullying", em compensação, provoca polêmicas. Na pesquisa, ele foi empregado para descrever agressões físicas ou verbais recorrentes e sem motivos - além do preconceito contra alguém diferente - entre colegas de escola. Pela metodologia empregada, "recorrente" significou no mínimo três vezes em um ano letivo. Não entraram na conta agressões contra um professor ou funcionário da escola. Ficam de fora ainda as violências provocadas por desentendimentos pontuais entre os alunos.

Mesmo com tantas restrições, os números de agressores e agredidos assustam. Por ser um fenômeno de caráter social - o agressor o pratica em geral para ganhar status perante os colegas de escola -, os números de participantes indiretos devem ser bem maiores.

O argumento para se fazer um estudo sobre o bullying é justamente o fato de ser um problema grave, que acarreta prejuízos à aprendizagem e à formação psicológica das crianças, mas ainda pouco estudado. Esta foi a primeira pesquisa nacional sobre o fenômeno, que teve impulso com a internet - fotos feitas pelo celular e campanhas em sites de relacionamento são novas armas de agressão. Mas por que separar o bullying das outras violências no ambiente escolar? Para Miriam Abramovay, que já fez estudos sobre violência nas escolas para Unesco, Banco Mundial e Unicef e hoje coordena o setor de pesquisas da Ritla, não deveria haver distinção. "Chamar de bullying parece um abrandamento", diz. Na verdade, bullying é um termo novo para um antigo problema das escolas que ainda não foi resolvido

Bullyng - parte I

Maioria de casos de bullying ocorre na sala de aula
Sociedade. Estudo com 5.168 alunos de 5ª a 8ª série mostra que 17% são vítimas ou agressores; fenômeno se alastra pela internet
Luciana Alvarez
Estado de São Paulo, 15/04/2010 - São Paulo SP

Uma pesquisa nacional sobre bullying - agressões físicas ou verbais recorrentes nas escolas - mostrou que a maior parte do problema (21% dos casos) ocorre nas salas de aula, mesmo com os professores presentes. Dos 5.168 alunos de 5.ª a 8.ª séries de escolas públicas e particulares de todas as regiões do País entrevistados, 10% disseram ser vítimas de bullying e 10%, agressores - 3% são ao mesmo tempo vítimas e agressores. O estudo, feito pelo Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor (Ceats/FIA) para a ONG Plan Brasil, mostrou o despreparo das escolas e dos professores. "As escolas mostraram uma postura passiva para uma violência que acontece no ambiente escolar", afirmou Gisella Lorenzi, coordenadora da pesquisa. "Em outros países, o lugar preferencial de agressões é o pátio, onde costuma haver mais alunos e menos supervisão", disse Cléo Fante, pesquisadora da Plan, especialista em bullying. Segundo o estudo, 7,9% das agressões são feitas no pátio, 5,3% nos corredores e 1,8% nos portões da escola.

A socióloga Miriam Abramovay, da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana (Ritla), diz que o resultado demonstra que o estudante não se importa com a supervisão de um adulto, pois há uma banalização da violência nas escolas. "Essas agressões não são vistas como uma violência", diz. "Em geral, os professores dizem que é brincadeira. Falta um olhar perspicaz para perceber os conflitos." A pesquisa indicou também que 28% dos estudantes foram vítimas de algum tipo de violência dentro da escola no último ano e mais de 70% deles presenciaram agressões.

Quando se trata de agressões recorrentes, os meninos sofrem mais que as meninas: 12,5% deles se disseram vítimas, mas o número cai para 7,6% entre as garotas. O Sudeste é a região com mais vítimas de bullying - 15,5% - e o Nordeste, com a menor ocorrência (5,4%). Rendimento. A principal consequência do bullying para a vida escolar é semelhante tanto para agredidos quanto para os agressores. A perda de "concentração" e "entusiasmo" pelo colégio foram as consequências mais citadas pelos dois lados (16,5% das vítimas e 13,3% dos agressores). "A violência na escola impede a plena realização do potencial das crianças", afirmou Moacyr Bittencourt, presidente da Plan Brasil. Outros dados são que 37% dos entrevistados disseram que "às vezes" sentem medo no ambiente escolar e 13% afirmaram que nunca se sentem acolhidos. E, com a internet, insultos e ameaças via rede passaram a fazer parte da realidade dos alunos.

PARA ENTENDER - 1. O que é bullying? É qualquer tipo de agressão física ou moral entre pares (como colegas), que ocorre repetidas vezes nas escolas. A pesquisa considerou ao menos três vezes ao ano. 2. Qual a motivação para o bullying? Não há motivos concretos. Dicas para enfrentar o problema: Medo da escola - Uma criança que demonstre desconforto físico ou tristeza antes de ir para escola ou não queira participar de festas de colegas de colégio pode ser uma vítima. Procure conversar com seu filho e com representantes da escola. Novos comportamentos - Crianças que tenham mudança brusca de comportamento - eram falantes e tornam-se quietas, por exemplo - também podem estar sofrendo bullying. Pais devem ficar atentos ainda a comportamentos agressivos Atenção e conversa - "Vítimas" e "agressores" precisam igualmente de atenção. Muitas vezes o comportamento agressivo tem motivações de insegurança e medo. O melhor caminho é mediar uma conversa franca entre os dois lados.

A difícil arte de aprender e ensinar

Professor e aluno - Quem ensina e quem aprende?
Maria do Carmo Marques de Barros Torres
Portal Aprendiz, 13/04/2010

Penso que aprender e ensinar é, antes de qualquer coisa, uma relação humana de duas vias. E como tal merece toda a atenção. Enquanto ensinamos, temos realmente a oportunidade de aprender. Mas, aprender o quê se há a crença de ter muito mais conhecimento que o nosso aprendiz? O que, venhamos não é de todo uma mentira. É esperado e exigido de quem ensina, no mínimo, ter conhecimentos suficientes a serem transmitidos àquele que aprende. Mesmo assim, aprendemos com o nosso aprendiz questões que não são encontradas nos livros. São questões ligadas mais ao sensorial, ao emocional e ao afetivo, onde há a descoberta e redescoberta das duas partes da diferenciação crucial entre o escutar e o ouvir, entre o olhar e o enxergar.

Aprender e Ensinar não são faculdades estanques, e há que se conscientizar que são partes de um longo processo sem limites, e que a cada horizonte chegado há sempre outro à espera, e aí está a graça da relação. Quando houver trocas sem a preocupação com os títulos, mas com buscas incansáveis do novo, sem medo do desconhecido e com o reconhecimento humilde de que aquele que aprende ao mesmo tempo ensina e aquele que ensina também aprende, estimulando as duas vias numa busca de possibilidades para a transformação do conhecimento em saber. Saber este que nos faz sentir vivos e prontos a nos relacionarmos conosco e com o outro.

Precisamos ler mais: pessoalmente, pais, professores, sociedade....

Brasil: um país de poucos leitores
Alfredo Leonardo Penz
A Notícia, 13/04/2010 - Joinville SC

Era uma vez, uma menina que saiu para visitar sua avó; era uma vez uma linda moça (branca como a neve) que morava em um castelo com sua família; era uma vez um boneco de pau que virou gente; uma galinha que colocava ovos de ouro; João e sua irmãzinha Maria; Alice, a que morava no país das maravilhas; uma linda menina que se apaixonou por uma fera; um elefante que tinha grandes orelhas e voava... é assim que se desenrola o imaginário literário. Quem de nós já não ouviu pelo menos uma dúzia de contos e histórias como essas? Quem de nós já não debruçou-se sobre as páginas de um livro, com o intuito de divertir, fazer sorrir e até dormir filhos, afilhados, sobrinhos? A leitura faz parte das nossas vidas desde a idade mais tenra e não poderia ser diferente: ou somos leitores ou ouvintes. Na verdade, primeiro ouvintes, para então nos tornarmos leitores.

Antigamente, se pensava que a leitura era uma atividade solitária. Hoje em dia, temos outra visão sobre ela. Chegou-se à conclusão de que, quando lemos, estamos em contato direto com o escritor. Mesmo que ele esteja a quilômetros de distância. Mesmo que estejamos há dias, meses, anos, décadas, milhares de anos distantes do autor, ainda concordamos, discordamos, dialogamos ou mesmo questionamos as palavras do escritor. Quando lemos estamos, mentalmente, vendo o rei leão saltando a passos largos, com sua cabeça num movimento de vaivém, com sua crina esvoaçante sendo levada pelo vento como se ela não conseguisse acompanhar o movimento do felino. Apesar de todas as benfeitorias que a leitura possa proporcionar, ainda somos, nós brasileiros, um país de poucos leitores.

Para o bom leitor, ler é interpretar e não simplesmente decodificar símbolos. Ler é, efetivamente, construir significados. É imaginar que o leão corre livre e solto pela mata, ou preso no seu cárcere chamado zoológico. Que pode estar a poucos metros do seu pensamento, sentindo o ar quente das suas narinas. O bom leitor, o consciente, diante do texto, o transforma e se transforma e, por conseguinte, naquele exato momento existe uma mudança no seu comportamento. Aí então ele aprende. Nós aprendemos.

O Brasil ainda é um país de maus leitores. Pelo menos é possível verificar o fato por meio de dados obtidos junto ao Programa Internacional de Avaliação de Alunos, o Pisa. Há sete anos, 250 mil adolescentes de 41 países, com idade aproximada de 15 anos, participaram da avaliação que tinha como objetivo “produzir indicadores sobre a efetividade dos sistemas educacionais”. Infelizmente, nosso Brasil varonil classificou-se na 37ª colocação. É muito pouco para um país que quer se tornar a quinta maior potência mundial.

Talvez um desses reflexos seja a pouca leitura praticada na família. Pais que não têm o hábito da leitura não servem como bons exemplos à sua prole. Como se vê, o gosto pela leitura deve começar na família. E este hábito deve iniciar não somente na mais tenra idade, mas sim no ventre. Pais e mães devem começar a interagir com o bebê, lendo para ele. Desta forma, se acredita, seu gosto pelas letras tenderá a estar presente no DNA do futuro leitor. Assim, quando a criança chegar na escola, já deverá ter condições de interpretar, dentro da sua faixa etária, qualquer texto, tornando-se um construtor de significados. Falta de livro ou de dinheiro não é desculpa para não se praticar uma boa leitura – apesar de eles serem caros, aqui na terra verde-amarela, infelizmente. Feiras de livros, bibliotecas e sebos são fontes alternativas para o consumo literário. Você lê? Qual foi o último livro que você leu? Quando foi lido? Da próxima vez que você for comprar um presente a uma criança, a um adolescente ou a você mesmo, presenteie com um livro, um inteligente, daqueles que façam qualquer um viajar. Lembre-se do leão e corra atrás do saber. Só chegaremos a ocupar melhores espaços na economia, na ciência, na tecnologia, nas artes, nas “etcs.” por meio da boa leitura.

Escrevendo, lendo...criando e adentrando em mundos

O Povo, 13/04/2010 - Fortaleza CE
Jovens autores e a formação de novos leitores
Urik Paiva
Para muitos autores, foi na infância e na adolescência que surgiu o amor pelos livros. Nessa época, somos mais abertos ao novo e, portanto, estamos propícios ao apego. E quando nos entregamos ao gosto pela leitura, o hábito não desaparece. É livro no quarto, na sala, na estante, na cozinha, no banheiro. É aquela leitura descompromissada no ônibus, clandestina na sala de aula ou no trabalho, iluminada na praia, silenciosa e solitária na biblioteca. Infelizmente, essa realidade não é percebida em todos os lares brasileiros. A cultura audiovisual está tão avançada que quase não permite a concorrência do texto, o que dificulta a conquista de novos e jovens leitores. Ainda bem que estamos presenciando uma onda de programas e projetos de incentivo à leitura, advindas tanto do poder público como da sociedade civil. É evidente que não se faz um país de leitores em alguns poucos anos, mas já vemos avanços consideráveis Brasil afora. Já foi dito, e está certo, que eventos ligados ao livro, como a IX Bienal Internacional do Livro do Ceará, em andamento no Centro de Convenções, são importantes formadores de novos leitores. O contato de crianças e adolescentes com escritores e poetas mostra aos jovens que a leitura é algo encantador e apaixonante que deve fazer parte do cotidiano sociocultural de um povo.

Muitos desses jovens, apaixonados por versos e histórias, se tornam autores ainda na pouca idade. Quando os sentimentos provocados pela leitura transbordam no papel, temos os primeiros contos e poemas, ainda cambaleantes, como filhotes recém-nascidos reconhecendo terreno. Apesar do muito a evoluir, são obras-primas enquanto exercícios de subjetividade, por vezes intensa. Jovens escritores incentivam a formação de novos leitores e escritores. Trata-se da vontade de construir universos, brincar com a língua. Quando crianças e adolescentes percebem que outros deles são capazes de produzir textos e publicá-los, eles se sentem convidados a peregrinar pelos caminhos da escrita. E nem é preciso comentar a importância social da leitura como elemento de cidadania.

Tudo não passa da vontade de ler mais. Escrever é ler também: ler mundos, pessoas fatos. Tateando pela escrita se tem a percepção ainda maior da linguagem, em todas as possibilidades, jogos e variações. É como um cego, que vê pegando, sentindo, lendo o mundo através das mãos. Bons autores são, antes de qualquer coisa, bons leitores. A literatura como ofício é aprendida na lida trabalhosa da leitura. Mas essa não é apenas uma questão técnica de causa e consequência: existe a paixão no meio de tudo. Vou reformular a frase: bons autores são, antes de qualquer coisa, leitores apaixonados. A escrita é uma forma de viver esse sentimento de forma ainda mais intensa.

Matemática, educação: Gerard Vergnaud

As crianças sabem, mas não conseguem se expressar
Gerard Vergnaud, diretor do Centro Nacional de Pesquisas Científicas, em Paris
Tatiana Duarte
Gazeta do Povo, 13/04/2010 - Curitiba PR

Aos 76 anos, o professor da Universidade Paris Gerard Vergnaud já orientou mais de 80 teses de mestrado e doutorado. Formado em Psicologia, é diretor do Centro Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS, na sigla em francês), em Paris. Fez a própria tese de doutorado com ninguém menos que Jean Piaget, um dos teóricos mais estudados no campo da Pedagogia. O professor francês esteve em Curitiba no mês passado, quando concedeu a seguinte entrevista à Gazeta do Povo:
Os professores usam bem a didática da matemática em sala de aula?
Ainda não muito. O processo de mudança das pessoas é muito lento. Os professores por sua própria experiência na atividade deixam de usar os resultados das pesquisas em didática de matemática. O processo da construção do conhecimento é muito lento numa criança. Mas quando se quer mudar os hábitos dos profissionais, especificamente dos professores, é ainda mais lento.

Como o senhor define a Teoria dos Campos Conceituais de maneira bem objetiva?
A ideia da teoria é começar um acompanhamento desde o início da aprendizagem da criança, quando ela entende e como se dá este raciocínio, até chegar aos raciocínios mais complexos. Tudo isso não é muito compreendido ainda, mesmo pelos pesquisadores em didática da matemática. Ou seja, as crianças sabem sobre matemática mas não conseguem se expressar.

Como trazer a teoria para a prática em sala de aula?
Olhando as coisas. Provocando situações. Quando se coloca um jogo de tênis no computador, por exemplo, inicia um movimento da física. O aluno pode observar e fazer uma teoria deste movimento. O professor deve ser um ator e colocar as teorias como se estivesse entrando num palco.

Como foi desenvolver uma tese com Jean Piaget?
Houve um mal-entendido. Eu era mímico naquela época e tinha uma teoria sobre a estética da mímica. E o Piaget me recebeu achando que eu teria uma teoria Piagetiana sobre a mímica. Mas descobri um algoritmo importante e mostrei a Piaget. Ele ficou impressionado porque perdeu um mímico. Dali surgiu o que no futuro seria o grupo de estudos em didática da matemática.

Ensino de Matemática: parte I

Matemática mais atraente
Gazeta do Povo, 13/04/2010 - Curitiba PR

Aprendizagem na disciplina ocorre a longo prazo. Levar o aluno a entender o contexto, usar jogos e tecnologia podem tornar processo mais agradável
Tatiana Duarte
A tecnologia aliada à criatividade dos professores tem ajudado a tornar a matemática mais atraente para os estudantes. Avaliações de desempenho mostram que dominar a disciplina não é o forte dos brasileiros. O Sistema Nacional da Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2007, último resultado disponível, mostra que estudantes brasileiros da 8.ª série do ensino fundamental, que deveriam ser capazes, por exemplo, de calcular o valor de uma expressão algébrica, incluindo potenciação, conseguem realizar apenas operações como multiplicação e divisão com dois algarismos, conteúdo que deveriam ter dominado na 4.ª série do ensino fundamental. E a dificuldade com a disciplina se arrasta desde as séries iniciais. Na 4.ª série, de acordo com dados do Saeb, os alunos dominam habilidades que deveriam ter vencido na 2.ª série (veja tabela). O Saeb é um dos exames que integra a avaliação da educação básica no Brasil. É feito a cada dois anos e avalia uma amostra dos alunos matriculados nas 4.ª e 8.ª séries do ensino fundamental e 3.º ano do ensino médio, de escolas públicas e privadas, localizadas em área urbana ou rural.

O que a avaliação mostra, na opinião de especialistas, é que boa parte da relação de ódio com números e operações, muito comum em crianças e adolescentes em idade escolar, tem origem no ensino fundamental. Para o professor da Universidade Paris Gerard Vergnaud referência mundial em educação matemática, autor do livro A criança, a matemática e a realidade, que acaba de ganhar versão em português, uma das razões que explicam esse conflito é que o aprendizado em matemática ocorre ao longo dos anos. Vergnaud é criador da Teoria dos Campos Concei­tuais, que ajuda a entender como as crianças constroem os conhecimentos matemáticos. Para ele, os professores precisam usar mais desta teoria. “Os professores têm que se aliar aos pesquisadores e realizar um estudo empírico para acompanhar e dizer o que cada criança é capaz de aprender em cada idade. Os professores não têm conhecimento desta diversidade. E menos ainda os pais”, diz. O professor francês esteve em Curitiba no mês passado para ministrar palestra aos docentes do Grupo Positivo.

Para Vergnaud é possível, mas difícil, tornar o ensino da matemática mais atraente, devido à seriedade que permeia a disciplina. “Ao mesmo tempo em que há situações que se aproximam das vividas pelos jovens e crianças, a matemática é uma coisa muito séria. E por isso, a maior parte das crianças se enche. O uso de atividades lúdicas com a seriedade da matemática é um equilíbrio difícil de achar”, diz.

Atratividade - Trabalhar com o lúdico e a contextualização da matemática foi a solução encontrada pela professora do Colégio Novo Ateneu Juliana de Moraes Campos, que leciona a disciplina para crianças e adolescentes há 12 anos. A professora envolveu seus alunos da 5.ª série do ensino fundamental com a história da matemática. Depois de ter pesquisado sobre o assunto, cada estudante criou seu próprio sistema de numeração. “Temos de mostrar para a criança que a matemática não surge do nada na vida dela. Dá para vincular os conteúdos com o dia a dia usando novas metodologias”, diz. Há 12 anos, os alunos do pré à 4.ª série do ensino fundamental do Centro Municipal de Educação Infantil David Carneiro, no Xaxim, usam mesas com blocos desenvolvidas exclusivamente para o ensino da matemática. As aulas com as mesas ocorrem uma vez por semana. Antes e depois os conteúdos são abordados em sala de aula. De acordo com a professora Cristiane Inês Bassa, a tecnologia permite uma melhor visualização de situações matemáticas. “Serve como um complemento da aprendizagem”, diz.

A mesa tem blocos coloridos e é integrada a um computador que permite o uso por até seis crianças simultaneamente. Contém jogos e exercícios que dão noções de lateralidade, direção, medidas e lógica. Para a estudante do 3.ª ano Bianca Ferreira Fidelis, 8 anos, dispensar a escrita dos números é um dos pontos positivos do uso da tecnologia. “Sem contar que aqui é muito mais divertido”, diz. Para uma das desenvolvedoras da tecnologia, a matemática Vanessa Moraes, as novidades tecnológicas servem para facilitar, mas sozinhas não garantem o sucesso do aprendizado. No caso das mesas, a matemática acredita que um dos principais ganhos é que o software não obriga os alunos a acertar os exercícios. “A criança se sente mais à vontade para treinar no computador. Sabe que pode retornar e tentar de novo. A observação ocorre de maneira mais lúdica. Já com a presença do professor o sentimento é de que está sendo repreendida”, diz.

Ensino Médio: mais uma proposta. Estudos sobre direitos do cidadão

Ensino médio poderá incluir estudo sobre direitos do cidadão
Sugestão foi apresentada pela Associação Brasil Legal e será transformada em projeto de lei
Agência Câmara
Correio Braziliense, 12/04/2010 - Brasília DF

A Comissão de Legislação Participativa aprovou uma sugestão para incluir, entre as finalidades do ensino médio, a educação para a cidadania e o conhecimento da legislação básica sobre os direitos e deveres dos cidadãos e dos governos e sobre o funcionamento da administração pública. A sugestão, apresentada pela Associação Brasil Legal, foi aprovada na última quarta-feira (7) e vai tramitar na Câmara como projeto de lei. Na opinião da relatora, deputada Fátima Bezerra (PT-RN), a proposta vai "preparar a juventude brasileira para o pleno exercício de uma cidadania autônoma". A proposta inclui dispositivo na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) - Lei 9.394/96.

“Entendemos que essa é uma contribuição efetiva ao aperfeiçoamento da legislação educacional em um momento em que a Nação clama por maior rigor no combate à corrupção e em defesa da ética e da correta utilização dos recursos públicos”, diz a relatora. A Associação Brasil Legal, sediada em Belo Horizonte, foi constituída para combater a corrupção. A deputada rejeitou, no entanto, a parte da sugestão que incluía os estudos sobre cidadania como disciplina obrigatória no ensino médio. Fátima Bezerra ressaltou que há uma súmula da Comissão de Educação e Cultura recomendando a rejeição de qualquer proposta que trate de assunto curricular. Tramitação - O projeto ainda não recebeu numeração e aguarda distribuição às comissões que vão analisá-lo.

Escolha de carreira e futuro

Carreira - Vou repetir
Correio Braziliense, 12/04/2010 - Brasília DF

Filhos que escolhem as profissões dos pais podem se destacar no mercado devido à troca constante de experiências. Mas se houver imposições, é grande o risco de desistência e futuras frustrações
Diante de tantas opções na hora de decidir qual caminho profissional seguir, muitos preferem não arriscar e resolvem traçar as mesmas escolhas dos pais. Às vezes, por imposição. Às vezes, não. No caso de Jorge Martins Ferreira, 20 anos, a carreira foi sendo cozinhada pela proximidade. Desde pequeno, ele acompanhava o pai, Francisco Erto Clarindo, 48, em seus restaurantes. Sempre de olho na movimentação na cozinha. Não dava para ser diferente: gastronomia foi escolhida como a formação superior. “Pensei que ele faria administração”, confessa Francisco Erto.

E Jorge até tentou. Frequentou um semestre do curso, mas não teve como negar a vocação. “Sempre gostei de cozinhar. A gastronomia tem matérias interessantes, como a nutrição. Além disso, posso criar novos pratos, usar o meu estilo”, ressalta. Uma oportunidade também de levar novidades aos pratos dos estabelecimentos do pai e até de abrir o próprio negócio. “Fiquei algum tempo cuidando de um dos restaurantes. Nesse período, sempre tentava ficar na cozinha, aprender algumas técnicas e dar opinião nos pratos que seriam servidos aos clientes”, relata Jorge.

Mesmo que em uma segunda opção, Jorge se sente realizado por estar no curso atual. Mas a derrapada do jovem profissional é comum e comprovada por estatísticas do Ministério da Educação. Segundo dados do Censo da Educação Superior, em 2008, 33% dos alunos de instituições federais não terminaram o curso que iniciaram. Nas instituições privadas, esse número sobe para 44,7%. A psicóloga Márcia Garcia acredita que a mudança de curso é um fator comum entre os jovens, já que a escolha da profissão é feita muito cedo. Para ela, com 17 anos, alguns podem não ter certeza de qual caminho seguir e acabam, pela proximidade, escolhendo os exemplos que têm dentro da casa. Ser submetido a um método de avaliação vocacional pode evitar escolhas erradas. “Em muitas escolas, essa avaliação já foi implantada. Acho fundamental que todo jovem a faça. Os pais, muitas vezes, depositam uma carga emocional muito grande. Eles têm que ter uma visão externa”, afirma.

Os casos de pais que exigem dos filhos o ingresso em determinada profissão deles ou em ramos tidos como promissores ainda são frequentes, segundo especialistas em carreira. Para a psicóloga e diretora da Rhaiz Soluções em RH, Carmen Cavalcanti, as imposições normalmente representam um desejo de que os jovens obtenham sucesso em suas carreiras. “Os pais sempre estão muito bem intencionados. É uma imposição que, a princípio, é para o bem. Só que eles não fazem ideia do quanto que isso pode ser prejudicial aos filhos”, comenta. Segundo ela, em Brasília, outro questionamento entra na negociação: tentar ou não um lugar na iniciativa privada? “Na capital do país, há uma tendência forte de relacionar o sucesso profissional a uma aprovação no setor público”, ressalta. Uma pressão justificada pelo trabalho estável e bem remunerado, mas que pode gerar problemas sérios. “Uma imposição tem seu preço e pode até gerar uma depressão”, alerta Carmen. Conversa franca - Na família de Karla Alves, 32 anos, parece até que a profissão de enfermagem corria nas veias. Ela e a irmã Fernanda Alves, 26, são enfermeiras, assim como a mãe Maíra de Fátima, 53. Karla conta que influência direta nunca existiu, mas as conversas na hora do almoço sempre giravam em torno da profissão de Maíra. “Minha mãe sempre teve muito carinho pela profissão, talvez pelo fato de ser enfermeira obstetra e ter que lidar muito com bebês. Isso, de certa forma, acabou sendo passado para mim e para minha irmã”, conta.

A psicóloga e diretora do Grupo Labor, Márcia Garcia, acredita que essas conversas a respeito da profissão dos pais são saudáveis e necessárias. “Aqueles momentos perdidos diante da televisão podem ser substituídos por esse tipo de conversa. Acho que o filho tende a valorizar e a respeitar muito mais os pais”, fala. Entretanto Márcia explica que os pais devem evitar falar apenas sobre esse assunto. “Eles devem abrir um leque de opções para esses jovens e conversar abertamente sobre todas as carreiras”, afirma. Apesar de não ter havido nenhuma imposição na família de Karla, ela acredita que com seu filho, de apenas um ano de idade, vai ser diferente. “Meu marido é médico. Na família dele, houve muita imposição por parte do pai que também era médico”, conta. “Eu acho que deve haver algum tipo de direcionamento, sim. Não dá para deixar eles escolherem sozinhos. Eles são obrigados a decidir a carreira muito cedo, ainda muito imaturos”, diz.

Sobre a evasão escolar

Evasão escolar
Editorial
Gazeta de Alagoas, 11/04/2010 - Maceió AL

O chefe do Centro de Políticas Sociais (CPS) do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), economista Marcelo Néri, manifestou-se publicamente preocupado com o futuro da juventude brasileira para os próximos dez anos. Para ele, a evasão escolar e a falta de mão de obra qualificada apontam para um cenário pouco promissor. Segundo ele, mais de 97% das crianças e jovens entre 7 e 15 anos no País estão na escola e 90% estão em instituições de ensino públicas, “que são muito piores do que as privadas”. Nas escolas públicas, em uma escala de 0 a 10, a nota média do aprendizado é 3,6, e nas privadas, 6. A média brasileira é 3,8, informa Néri. A meta estabelecida pela sociedade e pelo Ministério da Educação é alcançar nota 6 – média dos países da Organização para Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) –, nas instituições públicas de ensino do Brasil até 2020.

Tivemos uma enorme quantidade de anos para que não faltassem programas e outras iniciativas no País para estarmos, agora, no século 21, bastante otimistas também nessa área. Entre os motivos da evasão escolar sempre foram e continuam sendo citados como principais as condições sociais, as causas e os efeitos da pobreza, da desagregação familiar, a repetição constante de séries, a violência, a gravidez na adolescência, as dificuldades de acesso às salas de aula. Já comentamos neste espaço que em Alagoas, por exemplo, a questão da evasão escolar, estimada pelo Ministério Público em torno de 40%, provocava preocupações de especialistas ainda nos primeiros anos da então Secretaria de Educação e Cultura (Senec) criada em meados do século passado. Lamentavelmente, apesar dos enormes investimentos realizados por sucessivas administrações governamentais, a evasão escolar continua como um dos mais sérios desafios no País.

Olimpíadas de Física de 2010

Inscrições para a Olimpíada Brasileira de Física vão até 6 de agosto
O Globo, 09/04/2010 - Rio de Janeiro RJ

RIO - Estão abertas até o dia 6 de agosto as inscrições para a Olimpíada Brasileira de Física 2010 (OBF). As inscrições são gratuitas e poderão ser feitas pela internet com os respectivos coordenadores estaduais. O evento é voltado a alunos do ensino médio ou que estejam cursando o último ano do ensino fundamental. Para fazer a inscrição cada escola deve preencher um formulário eletrônico e os professores, depois de cadastrados, podem inscrever quantos alunos desejar. O evento visa a estimular o interesse pela física, aproximar o ensino médio das universidades e selecionar talentos para as competições internacionais de física. A competição é dividida em três fases. A primeira, realizada na própria escola do estudante, será no dia 14 de agosto. Na segunda, no dia 25 de setembro, os alunos classificados farão provas em locais determinados pelas coordenações estaduais.

A última etapa, no dia 6 de novembro, reunirá os selecionados pelas fases anteriores nas sedes das coordenações estaduais, onde farão uma prova prática e uma teórica. Os 40 melhores alunos classificados na terceira fase da OBF serão preparados para participar da Olimpíada Ibero-americana de Física (OIbF) e para a International Physics Olympiad (IPhO). Cerca de 250 mil alunos de 4,8 mil escolas participaram da edição de 2009 da OBF. Outras informações: www.sbf1.sbfisica.org.br/olimpiadas/obf2010. No Estado de São Paulo, as inscrições poderão pelo site: http://olimpiada.ifsc.usp.br. Contatos com a comissão paulista: obfisica@ifsc.usp.br

Outras competências para adentrar no mercado de trabalho

Empresas ampliam exigências para recrutar profissional
Maior oferta de mão de obra qualificada demanda diferenciais como idade, intercâmbio e experiência
DA REPORTAGEM LOCAL
Folha de São Paulo, 11/04/2010 - São Paulo SP

A melhor opção para conseguir renda e emprego ainda é ter o ensino superior completo. O desemprego no nível é menor do que o de outras escolaridades, e a participação dos ocupados cresce em todas as regiões metropolitanas. Na área de Recife, 11% dos ocupados contam com essa formação. Na região de Brasília, a participação é o dobro, 22%. "O salário é, em média, três vezes maior [em comparação ao do ensino médio]", aponta Naercio Menezes, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper.
Mas não é o canudo embaixo do braço que dá acesso ao mercado, explicam especialistas. "O diploma é uma qualificação de papel, virtual. O mercado de trabalho é altamente seletivo", considera Ana Heloísa da Costa Lemos, especialista em relações entre trabalho e escolaridade no Instituto de Administração e Gestão da PUC-Rio. "Existem outras características que definem a contratação -diferenciais como idade, intercâmbio e experiências em outras empresas. Cada companhia pode considerar uma dessas características [como mais desejável] em relação às outras", afirma Juan Carlos Dans Sanchez, da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho do Estado de São Paulo.

Busca - Ivan Pinto Dias Junior, 45, perdeu o emprego em uma multinacional em outubro de 2009 após cerca de um ano na empresa. Engenheiro eletrônico com especialização em administração de empresas, ele usa "todas as formas possíveis" para encontrar um novo posto: fala com conhecidos e inscreve-se em sites de currículos. Insatisfeita com as vagas disponíveis no mercado, Nicole Lagonegro, 29, quer obter uma certificação internacional. Ela, que é professora de inglês com especialização em psicopedagogia, questiona a qualidade do modelo de contratação das escolas de idioma. "Querem nos registrar como instrutores [e não como professores]." Atualmente em um trabalho temporário, Flaviane Sousa Nascimento, 23, busca um emprego fixo na área em que atua, comunicação e eventos. "Tenho feito muito mais entrevistas que no ano passado." (AL)

Mais formados no Ensino Superior e também mais gente sem vagas

Em 11 anos, há mais profissionais com nível superior e sem vaga no mercado
DA REPORTAGEM LOCAL
Folha de São Paulo, 11/04/2010 - São Paulo SP

O índice de desemprego entre profissionais com ensino superior foi maior em 2009 do que em 1998, ano em que a PED começou a ser elaborada. No Distrito Federal, foi de 3,7%, em 1998, e de 6,4%, no ano passado. Em Porto Alegre, cresceu de 3,9% para 4,3%. De lá para cá, houve uma explosão de cursos de graduação estimulada pelo aumento de faculdades privadas focadas na população de baixa renda e por bolsas de estudo oferecidas pelo governo federal. Apesar do desemprego maior, houve um crescimento da participação dos diplomados no mercado, em todas as regiões.

"Os ganhos em inovação tecnológica não foram suficientes [para absorver a mão de obra mais qualificada]", conclui Márcio Pochmann, do Ipea. "Talvez a demanda maior seja de natureza técnica e tecnológica, especialmente se o país continuar com o nível de crescimento [anterior ao da crise]", afirma Sérgio Mendonça, supervisor nacional da PED. Ele aponta que, até meados dos anos 2000, a escolaridade da população aumentava mais do que a absorção do mercado de trabalho. Após esse período, o quadro começou a se inverter, exceto em Recife, onde há queda desde 2005, e no Distrito Federal -que tinha tendência de alta e registrou queda em 2009.

Aumenta desemprego para quem tem ensino superior

Cresce 15% desemprego de quem tem 3º grau em SP
Aumento é o maior das seis regiões metropolitanas pesquisadas
ANDRÉ LOBATO DA REPORTAGEM LOCAL
Folha de São Paulo, 11/04/2010 - São Paulo SP

O desemprego para profissionais da região metropolitana de São Paulo que têm ensino superior completo aumentou 15% entre 2008 e 2009. É o maior crescimento entre todos os níveis de escolaridade de todas regiões metropolitanas analisadas na PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), feita pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Também são avaliadas Salvador, Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte e Distrito Federal. Dessas, tiveram queda do desemprego no superior: Salvador, Distrito Federal e Recife.

Entre 2008 e 2009, em Porto Alegre, o aumento de desemprego para quem tem nível superior foi de 5%; em Belo Horizonte, de 9%. Entretanto, esta foi a região que mais escolarizou sua mão de obra nos últimos 11 anos. O aumento do desemprego em São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte é explicado pela forte internacionalização do setor industrial, com alta escolarização, segundo os economistas Marcelo Neri, professor da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro, e Márcio Pochmann, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Para eles, São Paulo representa o centro da economia brasileira, e a crise econômica mundial atingiu com maior intensidade os polos mais prósperos do capitalismo, principalmente pela indústria. Ambos concordam que os profissionais com maiores ganhos, quase sempre os com ensino superior, foram os mais afetados pelas demissões.

Cortes - "As empresas preferem cortar postos administrativos [de ensino superior completo] com salários maiores", pontua Juan Carlos Dans Sanchez, coordenador de políticas de emprego e renda da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho do Estado de São Paulo. Além disso, expõe Sanchez, a área de serviços é a que mais cresce em São Paulo, oferecendo salários menores para empregos de remuneração mais baixa e menor escolaridade.

Aulas de Inglês_parte II

Escola privada divide turmas e terceiriza aulas
Luciana Alvarez
O Estado de São Paulo, 12/04/2010 - São Paulo SP

Na rede particular, a qualidade do ensino de inglês é uma preocupação crescente. Para responder aos anseios de pais, alunos, e às exigências do mundo atual, as soluções são variadas, entre elas a divisão das turmas, o aumento da carga horária e a terceirização dos serviços para escolas de idiomas. "Durante muito tempo, o ensino de inglês esteve concentrado na gramática", conta Edimara de Lima, coordenadora pedagógica da Prima Escola Montessori há 30 anos e coordenadora do congresso anual de educação Saber. "Você tinha alunos que depois de seis anos de estudos eram incapazes de uma comunicação oral mínima", diz. "Quando a escola quis mudar de enfoque, faltou professor preparado." A terceirização surgiu, portanto, como opção para a escola conseguir rapidamente um professor preparado e um material didático mais adequado. No Colégio Ítaca, a opção não foi pela terceirização, mas turmas são divididas em dois a cada série. "Dessa forma você realmente trabalha as quatro habilidades - ler e escrever, ouvir e falar. Nossos alunos saem realmente falando inglês", conta Sônia Mange, coordenadora de inglês no colégio.

Além das turmas reduzidas, a escola também aumentou a carga horária da disciplina: em vez de duas vezes por semana, os alunos têm três aulas de inglês por semana. Outra opção é manter os professores próprios, mas adotar material didático de uma rede. "Treinamos e fazemos o acompanhamento dos professores", conta Vera Bianchini, coordenadora pedagógica da Fisk. "A vantagem para a escola é estar em contato com quem produziu os livros, ter uma referência"

Aulas de Inglês_parte I

Português é a língua que se fala na aula de inglês
Estudo de caso da Unesp aponta limitações do ensino do idioma na escola pública
Luciana Alvarez
O Estado de São Paulo, 12/04/2010 - São Paulo SP

A aula é de inglês, mas só se fala em português. As turmas são grandes demais, o professor é mal preparado e todos ficam desmotivados. A situação, que não promove nenhum aprendizado, foi constatada em um estudo de caso feito por uma professora da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) no interior do Estado, mas a mesma combinação se repete em aulas de inglês de diversos colégios, em especial da rede pública. A pesquisa, dissertação de mestrado de Ana Lúcia Ducatti, não traz conclusões gerais sobre como está o ensino da língua inglesa nas escolas, mas traça um retrato preocupante dos problemas enfrentados em sala. Ela analisou 20 aulas de uma professora da rede municipal de São José do Rio Preto com mais de dez anos de experiência. Formada em Letras, Maria (nome fictício) não pode ser identificada por razões éticas. O estudo mostrou que o ensino é focado na gramática e não no uso do idioma. A oralidade em inglês é ausente. "Não se pode constatar o uso comunicativo e espontâneo da língua-alvo. Maria ministra a aula quase toda na língua materna, introduzindo o inglês apenas ao ler em voz alta", diz a dissertação.

A prática em sala de aula se dá tanto pela proficiência oral limitada da professora estudada - em um teste aplicado, ela estava em nível intermediário na parte oral -, quanto pelo contexto social. "Um dos motivos pelos quais ela não trabalha a oralidade é o fato de a maioria de seus alunos não manifestar interesse em se envolver com o que está sendo dado em sala", diz Ana Lúcia. A ideia de estudar o tema surgiu quando Ana Lúcia, até então professora de inglês apenas em escolas de idioma, foi contratada para dar um curso de capacitação na rede pública. "Percebi que os professores estavam insatisfeitos com a própria prática e com suas limitações na expressão oral", conta. "A falta de fluência afeta a qualidade da aula."

Sem preparo adequado, em geral os professores de línguas se sentem inseguros e preferem dar aulas apenas de português. "O inglês fica como segunda opção dos professores de português, para preencher buracos na grade", conta a pesquisadora. Maria diz que, com isso, se sente solitária. "Em toda minha vida como professora de inglês sempre me senti sozinha pela falta de interesse dos professores com os quais convivi e, em geral, pouco pude trocar ideias ou tirar dúvidas", afirmou a professora de inglês em entrevista à Ana Lúcia.

Expectativas. Durante o estudo, a pesquisadora também constatou a baixa participação dos estudantes, apesar de a maioria deles terem dito que consideram o inglês importante para o mercado de trabalho. "As salas de aula são numerosas e o material didático, inadequado. Com tudo isso, a professora não tem expectativas e os alunos também não", disse Ana Lúcia. Segundo Marília Mendes Ferreira, professora de inglês da Universidade de São Paulo (USP), uma das principais barreiras para o aprendizado do idioma nas escolas regulares é exatamente a crença de que não se vai aprender. "Esse discurso já ficou cristalizado. Pais, professores e alunos já pressupõem que não se aprende", afirmou. Marília reconhece que uma escola pública não tem como dar a fluência oral no inglês, mas defende que isso não invalida o ensino do idioma. "Não podemos usar uma escola livre de línguas como parâmetro", diz. "Mas no colégio você tem espaço para discussões sobre as diferenças culturais e pode trabalhar a escrita. Comunicação não é só falar."

PARA ENTENDER - A Lei de Diretrizes e Bases da Educação obriga as escolas a oferecerem o ensino de língua estrangeira a partir da 5.ª série (ou 6.° ano) duas vezes por semana. Muitas escolas particulares introduzem o idioma no currículo já no jardim de infância. O Ministério da Educação não aplica nenhuma avaliação sobre a qualidade do ensino de língua estrangeira oferecido no País. Este ano, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) vai incluir o inglês pela primeira vez.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Ética, Moral e Educação

A escola e a formação moral e ética
Elias Januário
Gazeta de Cuiabá, 09/04/2010 - Cuiabá MT

Neste artigo vamos refletir um pouco sobre a escola e sua função de atitudes morais e éticas, que deveriam ser uma atribuição da família, mas foi delegada ao professor como mais uma competência, além de ensinar os conteúdos universais num mundo em que está em constante transformação. Presumimos que uma criança ao ir para a escola já tenha internalizado os conceitos básicos de respeitar a autoridade do professor, escutá-lo e conviver de forma harmoniosa com seu colega de sala de aula. Mas acontece que nos últimos anos as coisas não andam bem assim. As famílias não fazem mais esse papel de formação primário, de internalizar na criança os códigos básicos da convivência com os demais seres humanos em sociedade.

Na verdade o que temos são as creches e as babás substituindo o papel de uma educação primária - que deve ser carregada de afetividade - fazendo essa função no lugar do pai e da mãe. Sem dúvida que isso terá reflexo futuro na formação social desta criança. Nessa perspectiva, a escola amplia a sua função para além de uma instituição de formação cognitiva, de ensino e aprendizagem de conteúdos curriculares sobre as diversas áreas do conhecimento, passa a ser também um espaço-tempo de formação da personalidade, dos conceitos que deveriam ser consolidados pelo núcleo familiar. O professor passa então a ter que incorporar à sua atividade de ensinar a função de educar, ou seja, de internalizar valores e conceitos que o aluno já deveria chegar à escola com ele, realizado pelo núcleo familiar, marcado pela afetividade. O que dificilmente vai ocorrer numa sala de aula de uma escola pública.

Outro aspecto que tem que ser colocado na roda dessa discussão é a influência da televisão nesse déficit de formação dos estudantes, haja vista que boa parte do tempo eles passam assistindo os mais diversos programas, alguns sem nenhum conteúdo ou perspectiva de formação educacional. Para contrapor a essa realidade que a cada dia se torna mais forte e presente nas casas das famílias brasileiras, é preciso ensinar as crianças a se contraporem, a ver de forma crítica a programação, a fazer uma "leitura", da mesma forma que se faz de um livro, do que é exibido nos diversos canais de televisão. Proporcionar a leitura de livros, jornais e revistas continua sendo uma forma saudável de promover a formação das crianças e adolescentes e contribuir com a escola na formação social dos estudantes.

Os maiores desafios educacionais em nosso país encontram-se hoje nas primeiras séries das escolas pobres, uma vez que nessas regiões se têm as piores escolas e os professores menos qualificados. Quando na verdade deveria ser ao contrário. As regiões menos favorecidas economicamente deveriam ser priorizadas com maiores incentivos educacionais e melhores formação de professores. Só assim teríamos condições de reverter gradativamente esse quadro assustador em que visualizamos em nosso país. A escola, para que possa ter condições de avançar rumo a uma escola autônoma, que esteja conduzindo dignamente a formação de seus alunos é indispensável que ela insira processos de capacitação permanente de seus docentes, contando também com a presença de assessorias e consultorias que vão ajudar na condução dessa nova realidade na qual a escola se apresenta nesse novo milênio.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Escolha para curso do Ensino Superior...dúvidas do 1o ano

Acha que errou na escolha? Encare as dúvidas do 1º ano
Dificuldades com rotina se confundem com incerteza sobre profissão
Bruno Loturco
Portal Universia, 07/04/2010

Diversos fatores podem colocar o aluno em dúvida nos primeiros dias na faculdade. Desde um primeiro contato frustrante com a profissão até a mudança de rotina do estudante, que sai do Ensino Médio e passa a enfrentar obrigações às quais não estava acostumado. O processo de adaptação não é tarefa simples para todos. Ao sentirem as primeiras dificuldades, muitos calouros ficam insatisfeitos com a situação e começam a questionar se estão realmente fizeram a escolha que certa no vestibular. Marcelo Rios, coordenador do curso de engenharia civil da Unifacs (Universidade Salvador) acredita que contribuem para esse questionamento dos alunos recém-chegados à universidade a carência teórica dos Ensinos Fundamental e Médio - principalmente em cursos mais técnicos -, a facilidade de acesso à graduação nas IES (instituições de Ensino Superior) privadas e o que chama de excesso de opções. "Os alunos decidem muito cedo e não têm paciência para verificar se gostam ou não do curso. A geração nova é a do controle remoto com 100 canais. Se não gosta, muda de canal. Se o curso não agrada, mudam porque se sentem obrigados a usufruir da liberdade que conquistaram", critica Rios.

Leitura semelhante tem Marcos Luiz Pessatti, coordenador do curso de Ciências Biológicas da Univali (Universidade do Vale do Itajaí). "Hoje temos tudo industrializado, o que facilita a vida, mas tem acostumado a geração nova a não ter de fazer nada. E as famílias sustentam essa postura, o que dificulta um pouco mais", acrescenta ele. É preciso, portanto, cuidado ao avaliar se os motivos que levam ao questionamento decorrem de mera resistência em enfrentar a nova realidade ou de efetiva incompatibilidade com o curso escolhido. Nesse contexto, o primeiro conselho dos coordenadores entrevistados é para que os alunos tenham paciência e tomem consciência de que passam por uma mudança de paradigma e que as conquistas dependem unicamente do esforço e do estudo deles.

Em seguida, a recomendação é para que façam projeções sobre o que esperam para a carreira e a vida. A finalidade é perceber que o curso é apenas uma etapa e, principalmente, que as disciplinas tendem a ficar mais práticas depois dos primeiros períodos. Para tanto, vale conversar com professores ou com profissionais. "Quando o aluno chega com dúvidas, o aconselho estagiar para ter contato com profissionais da área e ver se fica ou não mais estimulado. O importante não é que fique no curso, mas que fique no curso que goste", afirma Rios.
Essa foi a saída encontrada por Luis Bernardo Barboza Vianna Bacellar, aluno do último ano de engenharia civil da Unifacs e que tinha dúvidas sobre a profissão escolhida desde o vestibular. Essa incerteza se tornou mais notória quando as aulas começaram e só foram arrefecer quando ele começou a estagiar. "O estágio me motivou muito porque via coisas em campo que aprendia na faculdade", conta o rapaz. Por isso, o conselho dele para os calouros em dúvida é colocar a mão na massa. "Para ter opinião sobre alguma coisa, tem de experimentar, mas se a dúvida permanecer, tem de ir atrás de outra coisa porque não adianta tentar realizar o sonho dos outros", declara ele.

Pessatti é taxativo ao comentar sobre a importância da perseverança. Na visão dele, o aluno chega destreinado à graduação, pouco acostumado a raciocinar. Assim, ele defende que os estudantes se obriguem a enfrentar os desafios impostos. "A maioria encara a realidade nova. Mesmo que reprove numa ou noutra disciplina, a maioria se dá bem porque é inteligente", acredita ele. Alguns cursos oferecem, já no primeiro ano, a possibilidade de os alunos terem aplicações práticas do conteúdo apreendido, o que, na opinião de Rios, tem efeito semelhante ao do estágio. Como exemplo ele cita o caso do curso de engenharia civil da Unifacs, em que os calouros podem visitar obras e participar de concursos, como o que elege a melhor ponte feita de palitos de picolé. Em paralelo, afirma que a instituição procurou tornar mais acessível a linguagem de introdução à engenharia.

Cuidados prévios - Para diminuir a ocorrência desse tipo de problema já no primeiro ano, os alunos têm como alternativa avaliar a carreira e a vida universitária antes mesmo do vestibular. "Temos instrumentos que permitem ao aluno saber o que o profissional faz e como vive. E também é possível conhecer a instituição antes de se tornar aluno", diz Pessatti em referência às palestras promovidas pela sua instituição em que esses assuntos são tratados de maneira mais detalhada.

Pessatti faz ainda uma referência às perdas financeiras que uma escolha errada pode ter e como isso tem peso negativo não só no bolso do estudante, mas a longo prazo, se o medo das perdas tiver influência excessiva. Segundo ele, o planejamento financeiro é essencial, especialmente no caso de IES privadas. "O aluno entra na faculdade sem ter muita noção se vai conseguir pagar e, ao longo do semestre, alguns começam a sentir que não vão cumprir o compromisso financeiro e largam ou optam por outro curso mais pelo custo do que pela vocação", lamenta Pessatti. Rios acredita que a somatória de fatores tende a pesar mais. "O sujeito vê que tira boa parte do salário para a mensalidade, não consegue acompanhar o curso direito, está muito cansado e a família sente falta dele. Daí, num momento de fraqueza, ele larga", analisa. Nesses casos, a saída apontada por ambos os coordenadores é recorrer a financiamentos estudantis disponíve

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